FUZIS E METRALHADORAS NERVOSAS
Viva o exército nas ruas!
Ele sim está preparado para a guerra
Homens treinados em suas casernas
Para qualquer embate internacional.
 
Mas a turba enfurecida
Quer o exército nas ruas

Fazendo papel de polícia
Combatendo as mazelas
Que segundo eles estão nas favelas.
 
O alvo passou
Acena para parar?
Que nada, vamos atirar
Esse é o nosso papel
Depois perguntamos
Quem de fato está no carro.
 
Tiros como na guerra
E o “inimigo” sem reação
Atira mais, é traficante, é ladrão
E os dedos nervosos apertam o gatilho
E muita gente ensandecida com o brilho
Do fogo que cospem as metralhadoras.

 
Mas lá vai saindo uma mãe desesperada
Com sua filha gritando em disparada
Fogo, fogo o “inimigo” reagiu!
Cospe bala o famigerado fuzil.

Acabou! Acabou! Cessar fogo!
Vamos encerrar o jogo
E agora perguntar ao cidadão
Porque ele estava de arma na mão.
 
Opa, espera um pouco! Que arma!?
Sua arma era a família
A criança que corria era sua filha
Desesperada tentado se salvar.

Desculpem-nos, acertamos o alvo errado
Da próxima acertaremos o bandido malvado!
 
E há quem diga que o exército é despreparado
Não meus amados, eles tem preparo sim
Estão preparados para matar
Assim se aprende em treinamento de guerra.
 
Mas até na guerra tem código
Até na guerra existe prisão
Se o inimigo não reagir
É crime de guerra a execução.
 
O silêncio toma os palácios
Ninguém assume a responsabilidade
Prendem os soldados, meras máquinas
Máquinas de matar.
São eles, são eles
Eles os culpados!
Aponta um dedo estirado.
 
Generais sorrindo em suas mesas
Sem nenhum fuzil na mão
com aquele olhar tão angelical

A única arma é o comando
Que assina a execução.
 
Quem se importa com quem morreu
Quem liga para a família
Quem se importa com os soldados
Que receberam ordem e atiraram?

Todo mundo calado
Nenhum twiter do presidente
De onde o país é “governado”.
 
E o discurso que se encerra
Estamos em guerra, estamos em guerra!
E temos que concordar
Estamos realmente em guerra
Guerra desesperada pelo poder.
 
Busquem os livros de História
Busquem na memória
Como se formaram as favelas no Rio de Janeiro
Como se formou esse enorme “gueto”
Onde brancos pobres e pretos
Tem que lutar pra sobreviver.
 
Bendita República que praticamente acabou a escravidão
Mas joga os libertos no porão
Sem nada, sem terra ou enxada
Para buscar o sagrado pão.
 
Não deu hospital, não deu escola
Quando muito um bolsa família como “esmola”
Não é possível que não tenha alguém pensante
Que faça algo mais interessante
E que busque valorizar a educação.
 
Quantas mortes ainda teremos que ver
Quantos pais de famílias terão que morrer
Quantos jovens que já nascem sem chão?
 
Parafraseando o “poeta dos escravos”
“Ó senhor Deus dos desgraçados
Onde estás que não responde”?
 
E enquanto a favela é metralhada
E fuzis nervosos cospem fogo
Lá nos palácios segue o jogo.
 
Mais sede de sangue se instala
Mais gente caindo na vala
E mais ricos os poderosos vão ficando.
 
E eu daqui já escuto
Mais oitenta tiros de um jeito bruto
Com mais inocente tombando
Ser humano igual a mim, igual a você, igual a nós
Que não somos blindado
Por esse poder que a muitos destroem.
 
E enquanto se fuzilam as favelas
Dentro dos condomínios fechados
Tão protegidos pelo Estado
Vivem os grandes vilões.
 
Aqueles que a muito tem enriquecido
Usando favelados combalidos
Pela falta de oportunidade.
 
Quando já não os servem mais, mete bala
O chicote mudou, mas estala
E a vala engole mais seres humanos.
 
Oitenta tiros,
Desculpem-nos, foi apenas um engano!
Nenhuma palavra a mais.
JOEL MARINHO