passageiro
vai, passageiro que acena
e me aponta tua câmera
leva pra teu mundo
lá de onde vem o trem
um pouco do que a gente atura
meu rosto já marcado
pela infância perdida
ainda nem bem cresci
já crescida carrego a barriga
a boneca que nunca tive
acalento dentro de mim
e pedras, muitas pedras
embrutecem meu caminho
caminhar doído e esfolado
se não me perder logo ao lado
na mata de bichos e espinhos
selva de seres daninhos
mas lhe estendo igual
teu aceno passageiro
vai também com minha bênção
e com a imagem que capturas
quem sabe assim irmanados
mudamos nossas venturas
Publicado no livro "poesia de segunda" (2011).