acampamento ii
no rosto rosado o borrão
pareia os desgrelhados cabelos
destoa do brilho dos olhos
qual é o porvir que verão?
enquanto ainda suga a chupeta
um traço do ventre da mãe
cordão de múltiplas contas
vermelho, amarelo, negro
cores de raça, ou de condão?
e o verde, a fincar no chão
a esperança da menina
arrancada inda um botão
do solo nu da cidade
replantada entre os espinhos
da vida campesina
crua terra do sertão
o ser tão irreverente
dos pais que teimam gritar
que as heranças crioulas
semente, montaria, gado, criação
escola, amizade, honra e livre-pensar
valem mais que as patentes
das corporações sem nação
Publicado no livro "poesia de segunda" (2011).