sem-teto

a cidade alucinada

caos enfim engarrafado

calor do asfalto e concreto

o frenesi das baladas

suor no rosto encrespado

e o sol queimando inclemente

destilando a mistura de gente

vernácula e dialeto

formigueiro que sabe o cheiro

dos outros de mesma semente

mas a despeito da luz

debaixo da ponte do rio

rio esgoto, rio imundo

lá onde a penumbra perdura

escuridão vizinha às torres

de vidro em busca do céu

no vão vive raimundo

diriam perdeu-se ao léu

mas para ele foi o mundo

que danou-se em sua fé

então retirou-se no breu

onde o carvão da fuligem

empata a sombra do eu

Publicado no livro "poesia de segunda" (2011).