## IMUNIDADE ##

Imunidade

Houvesse chá d'imunidade

estaria tomando sempre, quem sabe

duas vezes ao dia, antes dos olhos abrirem,

antes dos mesmos fecharem, driblando pesadelos.

Ataques violentos, diários, sem trégua,

alma abalada, imunidade jogada ao chão!

Mas ainda digo não ao sim imposto; impostor,

colírio ardente em olhos que teimam em ver.

Enferma humanidade, violenta e covarde.

E quando o amanhecer me pega pelas mãos,

num levantar resistente, duvidoso, prudente,

corro ao espelho a saber se ainda sou gente.

Algo deteriora e temo o cansar da vigília,

quem sabe adormeça e o motim tome o mundo,

este mesmo onde me sinto deslocada, acoada.

Não há seio, mãe, ou ilusão; apenas porão.

Inda vejo olhos saltitantes, invejo-lhes a burrice,

mundo disse-me-disse, distraindo tolos,

cercando-os de tijolos e comendo-lhes as tripas.

Sem portas de emergência inda resisto a tal doença.

(Taciana Valença)

TACIANA VALENÇA
Enviado por TACIANA VALENÇA em 18/02/2019
Código do texto: T6577943
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