raimundo
bugre no meio dos brancos
adolesce imerso na astúcia
nas matas da beira do rio
colono endeusado e temido
ele filho da floresta
enfeitiçado pela cidade
luzes que nunca viu
sonha-a com as estórias
dos garimpeiros, condenados, mateiros
embrenhados pelo brasil
na mão direita o terçado
à lima bem aguçado
na outra o cigarro
de palha e fumo incurado
no ombro esquerdo o filhote
macaco inda assustado
trovão destroça a mãe
ele no dorso agarrado
horror de vê-la esfolada
o crânio aberto e o miolo
à fúria dos peões disputado
os caçadores sugam dele
a alma dos abatidos
macaco e menino irmanados
órfãos do branco destino
Publicado no livro "memórias amazônicas" (2011).