METAMORFOSE
METAMORFOSE
Os dedos que me fazem aconchego,
São os mesmos que detonam o revolver,
As mãos que seguram a adaga,
São as mesmas mãos que me envolvem.
A mão que aperta minha mão,
É a mesma que esmurra minha cara.
A boca que beija minha boca,
É a mesma boca que me escarra.
A voz a me dizer baixinho,
Palavras de amor e de promessas;
É a mesma que no auge da ira,
Me fere e me ofende sem piedade.
O corpo fecundo a onde me perco,
É o mesmo a onde me acho;
E os mil labirintos dos doces momentos,
Transformam-se por encanto em pradarias.
Tudo transforma-se no cotidiano desta vida,
E, igual a metamorfose interminável da borboleta,
Teu casulo sou eu, apenas eu,
E tu és certamente minha crisálida.
*J.L.BORGES