Prostituir
pode de certa forma não se ver
mas escorre entre os dedos
todos os mantras, segredos
amores, desejos, bem querer
se findam no escuro do quarto
em quatro paredes vazias
que só refletem a azia
de um cotidiano infarto
é irônico, supostamente escolho
a trilha sonora pra meu martírio
mortificado me faço estírio
inerte agora me encolho
a canção persiste, não cessa
cronometro o que como,
até o banho que tomo,
a obrigação existe, interessa
e interessa as vazias paredes
ao estômago quase oco
que move o corpo semi morto
e a voz que ainda tem sede
e que cuida de outros tantos
pagando em litros de suor
sonhando por um dia melhor
enquanto esconde seus prantos
parece que não cansa, mas cansa
balança a cabeça,
lembra que hoje é terça
que amanhã é proibida esperança
E mesmo moribundo
sabe em seu coração
que profissão é a prostituição
mais antiga do mundo