o resgate dos zoilos

já não me bastam os licores

outrora tivera amores

e nem épicos escritos

nem impávidos contritos

hinos que cantam louvores

pátria já não sei o sentido

pudera restara-me alguma

honra, já não tenho nenhuma

sinto-me, sem ser, um bandido

sem nada ser vou vestido

do direito adquirido

terno, gravata e linho

trago sempre em desalinho

empolado colarinho

toda noite vou corroído

pelo vazio que me devora

já dor não sinto de tão doído

vem de dentro, vem de fora

pudera oferecer-lhe alimento

que não fosse eu mesmo, sedento

de sentido, de desforra

que me logre vida afora

assim não sei se vivo ou morto

defronte à tela absorto

irrompe absurdo surto

doutrinam-me as novas e as novelas

libertam-me o anjo torto

vou à janela e lá ombro a ombro

tantos outros comigo aos escombros

batemos ruidosas panelas

Publicado no livro "coice de mula" (2018).