Flagelo Cotidiano
de manhã cedo
sempre o mesmo ritual
engolir o sono,
a dor e a ânsia
o cansaço, inchaço,
a discrepância
todos tem o mesmo Deus
o capital
carnaval, natal,
sarau, bacanal
não importa se é
junho ou novembro
pelo relógio da fome
eu me lembro
que a fé não sustenta
o seio germinal
chamam-no vagabundo,
preguiçoso, marginal
Qualquer infeliz sujeito
pobre louco
e dizem-lhe que toda
sua desgraça é pouco
por ousar não aceitar
a contradição “normal”
e de noite
ao perecer derrotado
sua camisa de força
abotoada
E com a bandeira branca
hasteada
desiste da alma que o
tem sustentado
E as vezes quando
sonha ou dorme
com a medida dos olhos
em tonelada
deseja os tijolos amarelos
da estrada
Mas sabe que a utopia enorme
é sufocada
pelo cotidiano “belo”
e assim com a coragem em farelo
“morre”
de manhã cedo
sempre o mesmo ritual
engolir o sono,
a dor e a ânsia
o cansaço, inchaço,
a discrepância
todos tem o mesmo deus
o capital