Flagelo Cotidiano

de manhã cedo

sempre o mesmo ritual

engolir o sono,

a dor e a ânsia

o cansaço, inchaço,

a discrepância

todos tem o mesmo Deus

o capital

carnaval, natal,

sarau, bacanal

não importa se é

junho ou novembro

pelo relógio da fome

eu me lembro

que a fé não sustenta

o seio germinal

chamam-no vagabundo,

preguiçoso, marginal

Qualquer infeliz sujeito

pobre louco

e dizem-lhe que toda

sua desgraça é pouco

por ousar não aceitar

a contradição “normal”

e de noite

ao perecer derrotado

sua camisa de força

abotoada

E com a bandeira branca

hasteada

desiste da alma que o

tem sustentado

E as vezes quando

sonha ou dorme

com a medida dos olhos

em tonelada

deseja os tijolos amarelos

da estrada

Mas sabe que a utopia enorme

é sufocada

pelo cotidiano “belo”

e assim com a coragem em farelo

“morre”

de manhã cedo

sempre o mesmo ritual

engolir o sono,

a dor e a ânsia

o cansaço, inchaço,

a discrepância

todos tem o mesmo deus

o capital

Rangel Paiva
Enviado por Rangel Paiva em 11/01/2019
Código do texto: T6548007
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