A rua que ninguém quer
O que se fez de surdo
Não enganou seu saber,
Só não quis ouvir do outro
As dores de um viver.
O que se fez de cego
Negou-se a enxergar,
Mas sabia das mazelas
Que vinham do lado de lá
O que de fraco se fez
E não estendeu a mão
Fez-se que não viu a sorte
Daquele caído ao chão.
O que não se fez de arrogado
Fugiu sem querer saber
É mais um desesperado
Amarrado ao próprio ser.
O que passou displicente viu,
Mas fingiu não ver
É mais um agoniado
Na pressa do seu viver.
O que se fez de entendido
Não fingiu nem ajudou
Continuo seu caminho
Com nojo, em nada tocou.
O que passou pela marquise
Um monte ele logo viu
Mas pulou aquela coisa
É gente, mas nem sentiu.
O que passou preocupado
Em conservar seus milhões
Nem se quer olhou a rua
Nem se quer olhou pro chão.
O que passou sorridente
Olho para ver o que era
Não era a felicidade,
Mas o avesso que vem dela.
O que procurava ajudar
Viu e estendeu-lhe a mão
Dividiu o que trazia
E lhe chamou de irmão.
Para quem quer ajudar
Não existe empecilho
Basta olhar um pouco
Além do seu próprio umbigo
Uma palavra, um sorriso
Leve também algum pão...
Um cobertor bem quentinho!
E muito amor no coração.