EBULIÇÃO DA ESCRAVATURA

A área de serviço é senzala moderna,
Tem preta eclética, que sabe ler "start"
"Playground" era o terreiro a varrer.

Navio negreiro assemelha-se ao ônibus cheio,
Pelo cheiro vai assim até o fim-de-linha
Não entra no novo quilombo da favela.

Capitão-do-mato virou cabo da
policia,
Seu cavalo tem giroflex (rádio-patrulhas)
Os ferros", inoxidáveis algemas;

Ração pode ser o salário-minimo,
Alforria só com a aposentadoria

(Lei dos sexagenários)

"Sinhô" hoje é empresário,
A casa grande verticalizou-se
O pilão está computadorizado.
Na última página são "flagrados" (foto digital)
Em cuecas, segurando a bolsa e a automática
Matinal pelourinho.

A princesa Aurea canta,
Pastoreia suas flores.
O rei faz viaduto com seu codinome.

Quantos negros? Quanto furor?
Tantos tambores.
tantas cores...

O quê comparar com cada batida no tambor?
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"A escravatura não foi abolida; foi distribuída entre os pobres."

Publicada em Cadernos Negro 25
Quilombhoje, São Paulo - 2002
Páginas 102-103
Luís Aseokaynha
Enviado por Luís Aseokaynha em 15/11/2018
Reeditado em 15/11/2018
Código do texto: T6503354
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