MALDITOS! N°4

MALDITOS! n°4

Então foi, do profundo abismo, qu'eu

Tive a visão do fim de tudo e todos

Pós-que o sol trás às nuvens s'escondeu.

A noite fez-se eterna nos engodos

D'um extremista, homem de bem ou ambos

Para vencer por todos meios e modos:

Os narcotraficantes com escambos

Mais os supremacistas pelas armas

Contra negros, asiáticos ou jambos...

Seguem todos às voltas com seus carmas,

Fomentando desastres para, enfim,

Ouvir sete trombetas soando alarmas.

Fazem o escatológico festim:

Em celebrações de ódio genocida,

Urgem d'Humanidade o triste fim.

Rudes, vêm vomitar sobre a avenida

Toda espécie d'estúpida revolta

Tendo absoluto horror da própria vida.

Como fossem corcéis à rédea solta;

Como em carga de audaz cavalaria,

Vão levando violência à sua volta.

Irmanados na ardente primazia,

Impõem enfim seus males a oprimidos

Embora revestidos de ousadia

Longe, escuta-se o pranto dos vencidos,

Bem como outros tantos uivos e ais

Já n'um clamor uníssono vertidos.

Partem agora para nunca mais

As utopias d'uma terra justa

Onde, sem males, todos são iguais.

Curva-se a uma ilusão que nos assusta

Pelo que nos pretende distinguir

Por entre bons e maus à face augusta.

Senhores do presente e do porvir,

Os bárbaros já uivam sob a lua

E clamam por façanhas de se ouvir...

Jactam-se sobre gente seminua

Que vaga pelas sombras da cidade,

Por moradores d'esta ou aquela rua.

Ameaçam, com toda a propriedade,

Àqueles que muito pouco têm...

Certos de que são donos da verdade!

Pois bodes expiatórios lhes convêm

E as cabeças jogadas contra o asfalto

Mal sobre seus pescoços se sustêm...

Avançam sobre o douto e sobre o incauto

Céleres em calar todas as vozes,

Nos mantendo em constante sobressalto.

Vão vindo como as hordas mais ferozes

Sempre com mais exércitos por trás,

Fazendo correr sangue feito algozes.

Com guerra, vêm impor-nos sua paz

E após jogar na vala mais comum,

Onde pouco importa quem lá jaz.

Milhões vociferando como se um

Os mesmíssimos ódios e violências;

Indo apressados p'ra lugar nenhum.

Esvaziaram as suas consciências

Berram d'olhos vidrados para além,

Indiferentes já às consequências.

Culpa de todo mundo e de ninguém,

Co'as mãos sujas de sangue dizem ser

Maldade contra os maus acto de bem...

Vêm em nome de Deus estremecer

-- Frase após frase infeliz --

Amizades a ponto de as perder.

Clamam todos por Deus n'esse país!

Como o Senhor amasse uns e outros não.

Sem embargo, Ele nada faz ou diz...

Betim - 06 11 2018