Poema do Beco

O beco não era apenas

Um esconderijo de sonhos.

Era muito mais do que isso.

Era o destino dos pequenos

E de todos os noturnos seres.

O beco não era apenas

Uma caverna na cidade.

Cavernas podem ter fim.

O fim de um era começo

De outro e assim assim.

O beco não era apenas

Um pedaço de humana sujeira.

Homens são sujos e limpos.

Tudo é a sua própria contraface

E apenas corremos do medo.

O beco não era apenas

Um espelho mais feio.

Espelhos quase sempre quebram.

Uma eternidade mesquinha

Nasceu ali e não foi embora.

O beco não era apenas

Uma alcova ao céu aberto.

Se gozo e gemido eram silêncio.

Cada mínima pegada

Era começo de uma caçada.

O beco não era apenas

O meu e o seu e o nosso refúgio.

Foi a escuridão dos meus olhos.

Olhos perdidos numa profundidade

Como um mar sem fim...

Carlinhos De Almeida
Enviado por Carlinhos De Almeida em 01/11/2018
Código do texto: T6491600
Classificação de conteúdo: seguro