UM OUTRO RIO
Da minha janela
Viajo em caravelas.
E deslumbrado só vejo belas imagens.
O Pão de açúcar e a bela Guanabara.
Mas na chegada ao porto sem canção,
Sangue de negros entornando em suas águas
Até então, ingênuas e imaculadas.
Sinto difícil neste instante imaginar
Qualquer canção que retrate em versos líricos
A face horrenda da escravidão.
Quando desperto ainda vejo triste
Muitos mendigos dormindo pelas ruas
Então constato nesta realidade crua
Que a indiferença é mais visível que a beleza
E que nem mesmo a exuberante natureza
Pode esconder triste presença da tristeza