Urbana Idade Número I
dias tempestuosos estes
onde tudo se funde e se confunde
e as nossas solidões fazem alarida companhia...
dias mais que nublados
em que as nuvens são de canos e chaminés
e as nossas feridas se abrem cada vez mais...
não é que eu queira chorar
mas esse é o nosso modo de viver
somos assim e nada podemos mudar...
e as coisas agora estão piores
com tantos arranha-céus braços erguidos
para um céu que não escuta nossos clamores...
e as filas acabam aumentando
e eis que novos ídolos surgem das sombras
mas são de barro e logo serão destruídos...
você viu a nova novidade nova?
jogue logo fora o que presta
não ter sentido algum é a palavra de ordem...
politicamente correto politicamente incorreto
amenidades nada amenas e futilidades fúteis
servidas numa mesma bandeja de prata...
lixo pelas ruas - eis a nossa nova decoração
palavras escritas inutilmente em todos os muros
nada mudou em séculos só os nossos olhos...
crianças nada inocentes - eis o nosso futuro
construir novas celas cada vez mais requintadas
e apontar o revólver para sua testa e atirar...
remédios muito piores do que as doenças
poesia sem sentido de grande mestres do nada
a maldade agora vem com cobertura de chocolate...
agora cruzes são vendidas baratas e acessíveis
podemos comprá-las em suaves prestações mensais
e sentarmos na sala para ver deliciosas calamidades...
nos palcos de teatros mambembes encenam-se
a peça de moralidade burguesa do momento
que fariam corar de vergonha a mais ralé das putas...
a morte anda sobrecarregada de tarefas
e nem os fins do mundo dão conta de tudo
e a loucura aprendeu á usar seus novos disfarces...
dias tempestuosos estes
onde tudo se funde e tudo se confunde
e as nossas solidões são carrascos e salvadores...
(Extraído do livro "Novidade dos Metais" de autoria de Carlinhos de Almeida).