BANERJ - Sou pobre por causa do governo
Eu tenho sede e não tenho onde beber,
Eu tenho fome e não tenho onde comer,
Sinto-me doente e não tenho como curar.
Estou desempregado há mais de cinco anos,
E não me dão emprego, só, só promessas,
Por causa da minha idade avançadíssima,
O meu filho não estuda há mais três anos.
E assim, vai nesta jornada sem estrelas,
Não tenho dinheiro somente fome e sede,
E as pessoas não atribuem qualquer ajuda,
Se me aproximo, elas se afastam sem olhar,
Eu já não sei mais o que fazer desta vida.
Sinto todos os dias o meu corpo fraco e frágil,
Sinto-me que estou me acabando sem saber,
Porém, a soledade é nos olhos do meu filho,
Onde vejo a mesma dor, agonia e desespero,
A mesma amargura e desgraça diariamente.
Peço, suplico, imploro pelo amor a Deus,
E ninguém me ajuda, ninguém me ver,
Mas, nenhuma pessoa passa a dor que sofro,
Com a minha insaciável sede e fome.
Fico triste quando a mulher me olha,
Com um olhar baixo e melancólico,
Sem nada poder exigir ou reclamar,
E desta forma, padecemos lentamente.
Sinto a miséria no seu corpo no único vestido,
Sinto a dor bater fortíssima no meu coração,
E meu filho acredita que todos os dias,
Eu trarei coisas boas para comermos. É o fim.
Somos unidos na mesma miséria da vida,
Ela corre ao meu encontro: alegre,
Sorrindo e satisfeita com o saco de esmola.
Ela sorrir, abraça-me como se fosse feliz,
Nada sabe dessa realidade traiçoeira e indigente.
Aquela criança, de pés-no-chão me ver como pai.
Com um único calção que leva no corpo,
Barriga vazia correndo ao meu encontro,
Eu a levo nos braços até o grande lar,
Debaixo do Viaduto Negrão de Lima.
Parece festa, é uma alegria matar a fome,
É nosso almoço e jantar numa festa rápida,
É nossa alimentação diária do Mercadão
Às vezes do Shopping Center Madureira.
Ficamos tristes quando o sol se esconde,
À noite ateiam fogo no casebre de papelão,
Os marginais e a polícia nos espancam,
Imputam-nos como vagabundos e ladrões.
Às vezes, o meu filho chora com fome,
Tenho vontade de fugir, gritar e chorar,
Ou até mesmo de desaparecer da vida,
É ruim e degradante esta vida de má sorte.
Tenho vontade de me lançar do alto do Viaduto,
Ou de me matar entregando este velho corpo,
Como forma de alimentar esta criança,
Pois, não suporto ouvir tantas lamentações.
O governo é culpado de tudo isto,
Foi somente a política do governo,
Que me acabou definitivamente,
Sugando o meu suor e o sangue.
Fui senhor e legítimo proprietário,
Com mais de três mil hectares de terras
No Estado do Rio de Janeiro.
Sempre trabalhei com agropecuária,
Ligada com a pecuária, era o meio,
Criação bovina de cinco mil cabeças,
Grandes investimentos conquistados,
Ao longo de vinte e cinco bons anos.
Num certo dia, o gerente do Banerj,
Falou-me de um empréstimo rural,
Com facilidades e carências de pagamento.
Que o dominante crédito rural,
Seria o melhor investimento,
Com mais de seis anos pra pagar.
Com juros de oito por cento ao ano,
Além das taxas e suaves prestações,
Carência com três anos, era a solução.
O banco indicou projetista e aprovou,
Com as minhas terras, este hipotecou,
Em penhor levou minhas benfeitorias,
E todo o rebanho e maquinários, me lesaram.
Assinei o contrato de letras minúsculas,
Cláusulas impressas e um bom café,
Ó que Cédula de Crédito Rural!
Após dez dias o crédito na conta,
Satisfação com o pé direito no chão.
Os anos se passaram, acabou a carência,
Comecei apagar as primeiras prestações,
Com efetivos juros camuflados e acumulados,
Com IOF, taxa de administração e spread,
O investimento agrícola não progredia.
Após certo período não suportei as parcelas,
Com juros exorbitantes e comissão de permanência,
Solicitei e insistir prazo para quitar as parcelas,
Alongar a dívida e honrar o meu compromisso.
A dívida rolava que nem uma bola de futebol,
Vendendo o gado para pagar as contas,
Com a corda no pescoço, falei com o gerente.
Renegociar o débito seria a única salvação.
Imaginativo em renegociar, foi a minha lesão.
Firmado a novação da dívida crescente,
Confessada com outras garantias de herança,
Fui novamente à perdição: O Banerj abriu as portas.
Estando pago mais da metade do débito,
O Banco Banerj triplicou o saldo,
Atribuindo correções futuras na conta.
Não tive oportunidade de discutir,
E muito menos falar em redução,
Assinado o tal contrato de confissão,
Fui enganado mais uma vez.
A dívida passou para milhões,
Comecei a pagar as duras prestações,
Doloridas e sem qualquer consideração.
Iniciei a venda dos tratores e caminhões,
Não houve reza e nem mesmo salvação,
Vinte parcelas que levaram para o barracão,
Prestações exorbitantes, desiguais e abusivas,
Reclamei sobre as taxas e formas de correções,
O gerente falava que estava no contrato.
Encargos bancários e índice de atualização,
Não tive condições de pagar tal confissão,
Enfermo, passei quatro meses, internado,
Foi o tempo suficiente para o banco executar.
Mesmo doente, o Oficial de Justiça não quis saber,
Certificou-me em lugar incerto e não sabido,
Perdi todos os prazos e fui citado por edital,
No Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro.
Agraciado no leilão, o banco arrematou,
Adjudicando todos os meus pertences,
Na mais baixa avaliação da hasta pública.
Olha! Eu sempre fui bem de vida,
Sempre possuir as coisas boas,
E perdi tudo através de maroto contrato,
Sem condições e sem advogado, nada pude fazer.
Aquela instituição satânica Banerj,
Acabou-me, deixando no olho da rua,
Indo morar no Morro de Santa Tereza.
Eu sei que muitas pessoas ricas,
Retiraram empréstimos milionários,
Constituíram bons advogados,
E jamais pagaram tais débitos.
Fiquei sem prestígio e pobre,
Eu só quero trabalhar seja de que for,
Procuro emprego e não encontro,
Eu não mereço viver? O que fiz?
Se viver, vou vivendo honestamente,
Eu não quero que meu filho morra de fome,
Igual o outro que enfraqueceu e partiu,
Estou sofrendo meu poeta! Deitado neste papelão,
E vendo o meu filho e mulher sentirem a mesma dor.
O governo não me conhece mais,
Mas tomou os bens que não é dele,
Deixou-me no meio da rua e sem fronteiras.
Sinto que as pessoas não me veem,
E não sabem que já fui rico,
Nem mesmo os meus amigos,
Perdi todos e tudo nesta agonia.
Hoje não sou ninguém, não sou nada,
Não tenho mais documentos,
Do imóvel alugado de lá fui despejado,
Sou um verme nesta louca sociedade.
Sabe de uma coisa!
Todo mundo passa bem!
Todo mundo esbanja suas riquezas,
Fazem planos mirabolantes,
Além de desperdiçarem alimentos.
Fazem empréstimos e não pagam os bancos,
Dão calote e fazem todo tipo de simulação,
Passam a toda hora em carros novos,
Desfilando encima desse viaduto,
E eu aqui embaixo sofrendo a agonia,
Lançado fora da sociedade.
Nem meus rins ou meu coração,
Eles querem para fazer transplante,
Um cachorro na casa deles,
Possui mais valor do que eu,
Que já tive de tudo o que é bom.
Sou um resto sem valia,
Veja, eu não tenho onde morar,
Não tenho luz e nem água,
Somente uma panela e um fogão,
Com apenas duas bocas.
Meu poeta, já apoiei vários políticos,
Em épocas passadas, ajudei um governador,
Em plena campanha na baixada fluminense,
Este, não saía de minha fazenda, era só alegria.
Nas condições que fiquei, meu poeta,
Eu fui várias vezes ao palácio,
Jamais fui atendido.
Atualmente, todos veem o problema,
Todos sentem comiseração,
Mas ninguém faz nada por ninguém.
Sei que você é um grande homem,
Com muita coragem e determinação,
Carioca, sei que você não é,
Nortista até parece muito bem.
Agradeço pelo dinheiro,
Uma mão ajuda outra,
Porém, a minha mão não mais ajuda,
Apenas recebe qualquer doação.
Esta é a minha história tristonha,
De um homem trabalhador e honesto,
Nem sei se sou ainda honesto,
Sou apenas mais uma vítima do governo,
Escreva um dia a minha vida,
Um dia, quem sabe nos veremos.
Obs: Fato ocorrido debaixo do Viaduto Negrão de Lima – Madureira – Rio de Janeiro – escrita em 26 de outubro de 1984.
Eu tenho sede e não tenho onde beber,
Eu tenho fome e não tenho onde comer,
Sinto-me doente e não tenho como curar.
Estou desempregado há mais de cinco anos,
E não me dão emprego, só, só promessas,
Por causa da minha idade avançadíssima,
O meu filho não estuda há mais três anos.
E assim, vai nesta jornada sem estrelas,
Não tenho dinheiro somente fome e sede,
E as pessoas não atribuem qualquer ajuda,
Se me aproximo, elas se afastam sem olhar,
Eu já não sei mais o que fazer desta vida.
Sinto todos os dias o meu corpo fraco e frágil,
Sinto-me que estou me acabando sem saber,
Porém, a soledade é nos olhos do meu filho,
Onde vejo a mesma dor, agonia e desespero,
A mesma amargura e desgraça diariamente.
Peço, suplico, imploro pelo amor a Deus,
E ninguém me ajuda, ninguém me ver,
Mas, nenhuma pessoa passa a dor que sofro,
Com a minha insaciável sede e fome.
Fico triste quando a mulher me olha,
Com um olhar baixo e melancólico,
Sem nada poder exigir ou reclamar,
E desta forma, padecemos lentamente.
Sinto a miséria no seu corpo no único vestido,
Sinto a dor bater fortíssima no meu coração,
E meu filho acredita que todos os dias,
Eu trarei coisas boas para comermos. É o fim.
Somos unidos na mesma miséria da vida,
Ela corre ao meu encontro: alegre,
Sorrindo e satisfeita com o saco de esmola.
Ela sorrir, abraça-me como se fosse feliz,
Nada sabe dessa realidade traiçoeira e indigente.
Aquela criança, de pés-no-chão me ver como pai.
Com um único calção que leva no corpo,
Barriga vazia correndo ao meu encontro,
Eu a levo nos braços até o grande lar,
Debaixo do Viaduto Negrão de Lima.
Parece festa, é uma alegria matar a fome,
É nosso almoço e jantar numa festa rápida,
É nossa alimentação diária do Mercadão
Às vezes do Shopping Center Madureira.
Ficamos tristes quando o sol se esconde,
À noite ateiam fogo no casebre de papelão,
Os marginais e a polícia nos espancam,
Imputam-nos como vagabundos e ladrões.
Às vezes, o meu filho chora com fome,
Tenho vontade de fugir, gritar e chorar,
Ou até mesmo de desaparecer da vida,
É ruim e degradante esta vida de má sorte.
Tenho vontade de me lançar do alto do Viaduto,
Ou de me matar entregando este velho corpo,
Como forma de alimentar esta criança,
Pois, não suporto ouvir tantas lamentações.
O governo é culpado de tudo isto,
Foi somente a política do governo,
Que me acabou definitivamente,
Sugando o meu suor e o sangue.
Fui senhor e legítimo proprietário,
Com mais de três mil hectares de terras
No Estado do Rio de Janeiro.
Sempre trabalhei com agropecuária,
Ligada com a pecuária, era o meio,
Criação bovina de cinco mil cabeças,
Grandes investimentos conquistados,
Ao longo de vinte e cinco bons anos.
Num certo dia, o gerente do Banerj,
Falou-me de um empréstimo rural,
Com facilidades e carências de pagamento.
Que o dominante crédito rural,
Seria o melhor investimento,
Com mais de seis anos pra pagar.
Com juros de oito por cento ao ano,
Além das taxas e suaves prestações,
Carência com três anos, era a solução.
O banco indicou projetista e aprovou,
Com as minhas terras, este hipotecou,
Em penhor levou minhas benfeitorias,
E todo o rebanho e maquinários, me lesaram.
Assinei o contrato de letras minúsculas,
Cláusulas impressas e um bom café,
Ó que Cédula de Crédito Rural!
Após dez dias o crédito na conta,
Satisfação com o pé direito no chão.
Os anos se passaram, acabou a carência,
Comecei apagar as primeiras prestações,
Com efetivos juros camuflados e acumulados,
Com IOF, taxa de administração e spread,
O investimento agrícola não progredia.
Após certo período não suportei as parcelas,
Com juros exorbitantes e comissão de permanência,
Solicitei e insistir prazo para quitar as parcelas,
Alongar a dívida e honrar o meu compromisso.
A dívida rolava que nem uma bola de futebol,
Vendendo o gado para pagar as contas,
Com a corda no pescoço, falei com o gerente.
Renegociar o débito seria a única salvação.
Imaginativo em renegociar, foi a minha lesão.
Firmado a novação da dívida crescente,
Confessada com outras garantias de herança,
Fui novamente à perdição: O Banerj abriu as portas.
Estando pago mais da metade do débito,
O Banco Banerj triplicou o saldo,
Atribuindo correções futuras na conta.
Não tive oportunidade de discutir,
E muito menos falar em redução,
Assinado o tal contrato de confissão,
Fui enganado mais uma vez.
A dívida passou para milhões,
Comecei a pagar as duras prestações,
Doloridas e sem qualquer consideração.
Iniciei a venda dos tratores e caminhões,
Não houve reza e nem mesmo salvação,
Vinte parcelas que levaram para o barracão,
Prestações exorbitantes, desiguais e abusivas,
Reclamei sobre as taxas e formas de correções,
O gerente falava que estava no contrato.
Encargos bancários e índice de atualização,
Não tive condições de pagar tal confissão,
Enfermo, passei quatro meses, internado,
Foi o tempo suficiente para o banco executar.
Mesmo doente, o Oficial de Justiça não quis saber,
Certificou-me em lugar incerto e não sabido,
Perdi todos os prazos e fui citado por edital,
No Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro.
Agraciado no leilão, o banco arrematou,
Adjudicando todos os meus pertences,
Na mais baixa avaliação da hasta pública.
Olha! Eu sempre fui bem de vida,
Sempre possuir as coisas boas,
E perdi tudo através de maroto contrato,
Sem condições e sem advogado, nada pude fazer.
Aquela instituição satânica Banerj,
Acabou-me, deixando no olho da rua,
Indo morar no Morro de Santa Tereza.
Eu sei que muitas pessoas ricas,
Retiraram empréstimos milionários,
Constituíram bons advogados,
E jamais pagaram tais débitos.
Fiquei sem prestígio e pobre,
Eu só quero trabalhar seja de que for,
Procuro emprego e não encontro,
Eu não mereço viver? O que fiz?
Se viver, vou vivendo honestamente,
Eu não quero que meu filho morra de fome,
Igual o outro que enfraqueceu e partiu,
Estou sofrendo meu poeta! Deitado neste papelão,
E vendo o meu filho e mulher sentirem a mesma dor.
O governo não me conhece mais,
Mas tomou os bens que não é dele,
Deixou-me no meio da rua e sem fronteiras.
Sinto que as pessoas não me veem,
E não sabem que já fui rico,
Nem mesmo os meus amigos,
Perdi todos e tudo nesta agonia.
Hoje não sou ninguém, não sou nada,
Não tenho mais documentos,
Do imóvel alugado de lá fui despejado,
Sou um verme nesta louca sociedade.
Sabe de uma coisa!
Todo mundo passa bem!
Todo mundo esbanja suas riquezas,
Fazem planos mirabolantes,
Além de desperdiçarem alimentos.
Fazem empréstimos e não pagam os bancos,
Dão calote e fazem todo tipo de simulação,
Passam a toda hora em carros novos,
Desfilando encima desse viaduto,
E eu aqui embaixo sofrendo a agonia,
Lançado fora da sociedade.
Nem meus rins ou meu coração,
Eles querem para fazer transplante,
Um cachorro na casa deles,
Possui mais valor do que eu,
Que já tive de tudo o que é bom.
Sou um resto sem valia,
Veja, eu não tenho onde morar,
Não tenho luz e nem água,
Somente uma panela e um fogão,
Com apenas duas bocas.
Meu poeta, já apoiei vários políticos,
Em épocas passadas, ajudei um governador,
Em plena campanha na baixada fluminense,
Este, não saía de minha fazenda, era só alegria.
Nas condições que fiquei, meu poeta,
Eu fui várias vezes ao palácio,
Jamais fui atendido.
Atualmente, todos veem o problema,
Todos sentem comiseração,
Mas ninguém faz nada por ninguém.
Sei que você é um grande homem,
Com muita coragem e determinação,
Carioca, sei que você não é,
Nortista até parece muito bem.
Agradeço pelo dinheiro,
Uma mão ajuda outra,
Porém, a minha mão não mais ajuda,
Apenas recebe qualquer doação.
Esta é a minha história tristonha,
De um homem trabalhador e honesto,
Nem sei se sou ainda honesto,
Sou apenas mais uma vítima do governo,
Escreva um dia a minha vida,
Um dia, quem sabe nos veremos.
Obs: Fato ocorrido debaixo do Viaduto Negrão de Lima – Madureira – Rio de Janeiro – escrita em 26 de outubro de 1984.