QUANTO VALE A VIDA

Dos autores da rixa iniciada

e a peleja travada mano a mano, tete a tete

da faca burocraticamente cravada nas costas

em um embate imbecil - por quase nada -

A banalidade como baliza das ações cotidianas.

O que se vê por aqui é o desamor

o ódio que salta dos olhos em um brilho amedrontador

a lâmina de aço da faca fria, que fia a carne

o sangue quente que corre por entre os dedos do agressor

e a raiva contida em seu agir desmedido.

Depois, o choro inconsolável da mãe

os gritos desesperados por socorro

a perplexidade na face incrédula do pai

e a reza que vela o corpo morto, caído no asfalto.

Pele negra, minguando solitária à espera do rabecão

expondo as vísceras de um desumano sistema

que finge não ver o que acontece na(s) periferia(s).

Será? Seremos sempre assim?

Bárbaros, brutais, cruéis...

Afinal de contas, quanto vale a vida?

- Vinte reais ou menos - troco do mínimo salário que nos é pago

- Um relógio de pulso fabricado no Paraguai

- Duas pedras de crack!

Quanto vale a sua vida? Será só isso mesmo!