DEUS ACIMA DE TUDO

Nem verde, nem amarela,

e nem, tampouco, vermelha;

A cor da minha bandeira

é a cor da negação:

O mundo manda recado,

a história manda recado,

e o parvo, evangelizado,

finca a cabeça no chão;

Sequer decifra os bilhetes...

Agora, feito um cadete,

entoa pobres verbetes

ricos em desafeição.

(…)

Nem verde, nem amarela;

Nem por decreto vermelha;

A cor da minha bandeira

tem tom de segregação:

Meu povo, que foi bravura,

peito aberto, envergadura,

sobreviveu à tortura

e hoje esporra alienação:

Famílias são devastadas,

amizades esmagadas,

submetidas às chagas

dos seus valores cristãos.

(…)

Nem verde, nem amarela;

Ou transparente, ou vermelha;

A cor da minha bandeira

é a cor da contradição:

Dos que defendem a vida

ameaçando outras vidas;

Da crueldade exibida

e defendida em oração;

Do teu descaso e do teu

postulante fariseu,

que mata em nome de Deus:

Pilatos lavando as mãos.

(…)

Nem verde, nem amarela

e nem, em sonho, vermelha;

a cor da minha bandeira

é a dor da humilhação:

Minha tez chicoteada,

índio sem terra, sem nada;

A ignorância armada

e a liberdade no chão.

E quem tem outro clamor,

outra orientação de amor

é dizimado em louvor,

no cofre do amor cristão.

(…)

Nem verde, nem amarela,

e nunca dantes vermelha;

mas hoje há manchas de sangue

e ele cabe na sua mão:

A sua mão que desfere

o golpe e ainda prefere

crer que o caminho da morte

é o caminho da salvação,

cristão...

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 17/10/2018
Reeditado em 17/10/2018
Código do texto: T6478454
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