DEUS ACIMA DE TUDO
Nem verde, nem amarela,
e nem, tampouco, vermelha;
A cor da minha bandeira
é a cor da negação:
O mundo manda recado,
a história manda recado,
e o parvo, evangelizado,
finca a cabeça no chão;
Sequer decifra os bilhetes...
Agora, feito um cadete,
entoa pobres verbetes
ricos em desafeição.
(…)
Nem verde, nem amarela;
Nem por decreto vermelha;
A cor da minha bandeira
tem tom de segregação:
Meu povo, que foi bravura,
peito aberto, envergadura,
sobreviveu à tortura
e hoje esporra alienação:
Famílias são devastadas,
amizades esmagadas,
submetidas às chagas
dos seus valores cristãos.
(…)
Nem verde, nem amarela;
Ou transparente, ou vermelha;
A cor da minha bandeira
é a cor da contradição:
Dos que defendem a vida
ameaçando outras vidas;
Da crueldade exibida
e defendida em oração;
Do teu descaso e do teu
postulante fariseu,
que mata em nome de Deus:
Pilatos lavando as mãos.
(…)
Nem verde, nem amarela
e nem, em sonho, vermelha;
a cor da minha bandeira
é a dor da humilhação:
Minha tez chicoteada,
índio sem terra, sem nada;
A ignorância armada
e a liberdade no chão.
E quem tem outro clamor,
outra orientação de amor
é dizimado em louvor,
no cofre do amor cristão.
(…)
Nem verde, nem amarela,
e nunca dantes vermelha;
mas hoje há manchas de sangue
e ele cabe na sua mão:
A sua mão que desfere
o golpe e ainda prefere
crer que o caminho da morte
é o caminho da salvação,
cristão...