Celebridade
Conta que certa feita ele chegou
e foi dizendo que era feio e logo bonito ficou.
Eleito o mais falante,
o melhor cantante,
o único elegante.
Disse que nem talento tinha,
mas depois que na mente uma ideia lhe vinha,
compunha uma toada qualquer,
inventava uns versos de mané,
falava de pinga, riqueza e mulher.
Com uma gravação de quinta categoria,
coloca na internet no mesmo dia.
Tinha acesso de montão,
elogio bom e comentário reclamão.
Logo um convite de produtora de renome
querendo fazer o seu nome,
prometendo shows em todo país
e uma conta bancária feliz
e outras coisas que ele não diz.
Aceitou de pronto,
nem pensou que podia ser só um conto.
Nem as consequências mediu,
pois facilidade assim nunca se viu.
Pegou suas rimas pobres
e foi com o intuito de ganhar os cobres.
Juntou suas notas básicas
e se entregou às promessas mágicas.
Tudo que queria era ser um Roberto,
mais um rei metido a esperto.
E não é que o danado ficou famoso,
fizeram dele um monstro charmoso.
As modelos logo se candidataram,
com o seu dinheiro elas se encantaram.
O moço triste sem vintém
que fazia companhia pra ninguém
se viu rodeado de abjurantes,
moscas e ratos farejantes.
Ele gostava de ser uma guloseima,
mesmo de sabor reprovado no tira teima,
mas os donos da bola
acusaram que solteiro não rola,
arranjaram um casamento
com polpa de grande evento,
muito mais para gerar notícia
e bem menos por perícia.
Casório este que não demoraria
para revelar a todos ser apenas uma alegoria.
O artista então famoso como fogo de palha
não conseguia conviver com a atriz tagarela como gralha.
Ela reclamava desse enlace indébito,
pois dele só desejava mesmo o cartão de crédito.
O marido não se sentia inteiro
e suspirava saudoso pela liberdade de solteiro.
Já não tinha inspiração para compor balada
e reclamava para os amigos de sua mulher enjoada.
Eles logo deduziram que a esposa gata
com certeza estava grávida e, por isso, estava chata.
E o filho nem bem nasceu
a separação já aconteceu.
Mas ficou a dívida de pensão
além dele perder a maior parte na hora da divisão.
Na pressa de viver a relação
nem se deu conta do tipo de união.
O cartório registrou comunhão total de bens
e ele ficou sem nada e sem o neném.
Acreditava que ainda havia fama
com a qual sairia da lama.
Mas apareceu outro sucesso de computador
e o povo já não se lembrava do antigo cantor.
Não demorou pra ele tocar no bar da esquina
a troco de uma dose de cangibrina.
Em menos de dois anos ninguém se lembrava
daquele que até as crianças embalava.
Suas canções já não tocavam mais no rádio
e na TV apenas o epitáfio:
“Sua música aqui jaz”,
Convidado de programa nunca mais.
Retornou a celebridade para o anonimato,
mas com a lição de que o sucesso é como mato.
Cresce bem que só,
mas quando se quer usar o terreno,
corta-se e queima sem dó.
Esse é só mais um que passou como cometa,
mas aprendeu: não tem talento, com a arte não se meta.
Se me perguntar qual o seu nome,
não vou mentir, pois é muito comum,
vem à mente, mas logo some.