Capitão

Que você sinta fome

Mas, sempre de bola

Que você faça falta

Mas, nunca na escola

Que você coloque os adversários no bolso

Mas, nunca as coisas dos outros

Que você faça gols de placa

E nunca desmanche um Gol sem placa

Que você seja o capitão

Nunca o olheiro

Que a festa na favela acabe em gols

Nunca em tiroteio

Que você seja quem quiser ser

Buarque com Luiz Gonzaga

Ataque com juiz com zaga

Que você frequente o campo e a concentração

Mas, nunca os dois juntos

Que você seja o primeiro na capital

No Brasil e no mundo

Que você seja o capitão

Nunca, o Nascimento

Tampouco do Mato

Que você fique livre

Da marcação

Da Fundação, da prisão

E do fardado

Que a única coisa que você precise roubar

Seja a bola do adversário

Que você tenha problemas de vestiário

Mas, nunca de vestuário

Que o seu esporte predileto

Seja o mesmo do Nazário

Que você molhe a camisa

De suor, nunca de sangue

Que a única coisa organizada que você veja

Seja a torcida

Que você seja artilheiro

Mas, nunca faça parte da artilharia

Que você fure bloqueios

Nunca moletons

Que você use colete

Nunca à prova de balas

Que você seja assunto na mesa redonda

Mas, nunca na quadrada

Que você seja o capitão

Nunca o tenente

Que você arme jogadas

E nunca as quebradas

Que você viva com a bola no pé

E não morra com a bola no pé

Que você arraste as chuteiras no chão

Mas, nunca o grilhão

Que você bata tiros de meta

Mas, não tenha os tiros como meta

Tire-os da reta

A bola perdida...

A bala perdida…

Que você encontre a bola de bico

E nunca receba a bala na bica