OUTRA VOZ
OUTRA VOZ
era sonho sem dono
era silêncio sob máscara de macho
cobrindo a fêmea
era sombra gasta que o corpo quebrado
afasta
escravo do poder utópico
nascido completo
em parte vive feito verme sem jeito
crescido carrega a dor dobrada ao meio
água não lhe mata a sede de ser o que é
nem Maria, nem José
a bicha aparece ou desaparece
não importa
o menino ferido por dentro atiça
o feminino fragilizado
e vira chacota na língua do masculino
por dentro o feminino devora
sob a pele de macho
a bicha ri, requebra e chora
joga na cara da sociedade
a liberade de ser
do corpo nascido homem
nem fêmea, nem macho
tudo junto nesse sonho sem dono
a bicha mostra a obra prima
além da forma
vale desver o de fora
contraler o de dentro
ouvir a voz
que sente no centro do que não se diz
dessa mágoa que nunca foi nova
e que dela somos todos, o eterno aprendiz
Mírian Cerqueira Leite