NEM AGORA E NEM NA HORA DA NOSSA MORTE
NEM AGORA E NEM NA HORA DA NOSSA MORTE
aos pés da catedral
à espera do milagre
sentados no chão
olhando para o céu
ou não
lá estão eles
os deserdados da fé
sem café
sem pão
perdão não há
degrau por degrau
viúvos da Ave Maria
santíssimos
sentados lado a lado
compartilhando
o sangue contaminado
o corpo quebrado
cotidianamente não visto
olhos nos craquelados olhos
que sonham sem dormir
em ser
gente igual a gente
ausente da gente que é
na Sé
e vão levando a noite
feito manto do dia
nas costas da prece
depressa
valei-nos ó Ave Maria
e ela dorme
e não os vela
Mírian Cerqueira Leite