O PRIMOGÊNITO DE DONA MARINALVA
Bairro pobre. Havia um lar,
Desfeito pela outra e pelo bar.
Dona Marinalva dispôs-se às faxinas.
O mais velho de sete designado,
Aos nove anos, a ser pai e mãe;
Além do afazer menino, o de menina...
Infância arremetida, jogada de lado.
Muitos almoços a café e pães.
Mal recolhido Sol na serra, ao poente,
A volta da mãe e a liberdade,
Toda embebida de amor e saudade
Pelo pai amado agora desistente.
Como em Ronda, de Paulo Vanzolini,
O menino de bar em bar, na busca
Aflita e vã: "Papai, volte, apareça!" -
"Menino, indague, veja, não se amofine;
Mel e fel, manjar e dor, tudo se degusta,
Mas seja menino até o Sol apareça!"
Ao Anselmo Souza Cabral.