O PRIMOGÊNITO DE DONA MARINALVA

Bairro pobre. Havia um lar,

Desfeito pela outra e pelo bar.

Dona Marinalva dispôs-se às faxinas.

O mais velho de sete designado,

Aos nove anos, a ser pai e mãe;

Além do afazer menino, o de menina...

Infância arremetida, jogada de lado.

Muitos almoços a café e pães.

Mal recolhido Sol na serra, ao poente,

A volta da mãe e a liberdade,

Toda embebida de amor e saudade

Pelo pai amado agora desistente.

Como em Ronda, de Paulo Vanzolini,

O menino de bar em bar, na busca

Aflita e vã: "Papai, volte, apareça!" -

"Menino, indague, veja, não se amofine;

Mel e fel, manjar e dor, tudo se degusta,

Mas seja menino até o Sol apareça!"

Ao Anselmo Souza Cabral.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 21/08/2018
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