Pois é, pra quê?

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O moleque ainda faz a ciranda na rua,

A puta tenta a esquina, mas está velha,

O traveco siliconado de bunda pra lua

E o governo só faz o que dá na telha.

Onde anda o povo das duras escarpas,

Onde a voz altiva espargindo o grito?

É uma arma na mão, é morro interdito

E a corrupção no lombo metendo farpas.

É o esgoto correndo solto pela alma,

É nego se acovardando e comendo

Uma carne de boi fantasma: calma!

- Fica aí, não faz nada! E esse país imenso,

Que é meu e que eu amo vai se perdendo

Nas mãos dos que tem tudo, menos senso.

"O automóvel corre a lembrança morre

O suor escorre e molha a calçada

A verdade na rua a verdade no povo

A mulher toda nua mas nada de novo

A revolta latente que ninguém vê

E nem sabe se sente pois é pra quê?

O imposto a conta o bazar barato

O relógio aponta o momento exato

Da morte incerta a gravata enforca

O sapato aperta o país exporta

E na minha porta ninguém quer ver

Uma sombra morta pois é pra quê?

Que rapaz é esse que estranho canto

Seu rosto é santo seu canto é tudo

Saiu do nada da dor fingida

Desceu a estrada subiu na vida

A menina aflita ele não quer ver

A guitarra excita pois é pra quê?

A fome a doença o esporte a gincana

A praia compensa o trabalho a semana

O chopp o cinema o amor que atenua

Um tiro no peito o sangue na rua

A fome a doença não sei mais porque

Que noite que lua meu bem pra quê?

O patrão sustenta o café o almoço

O jornal comenta um rapaz tão moço

O calor aumenta a família cresce

O cientista inventa uma flor que parece

A razão mais segura pra ninguém saber

De outra flor que tortura

No fim do mundo tem um tesouro

Quem for primeiro carrega o ouro

A vida passa no meu cigarro

Quem tem mais pressa que arranje um carro

Pra andar ligeiro sem ter porque

Sem ter pra onde pois é pra quê?"

(Sidney Miller)

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