Poema assexuado -e polêmico
Num canto isolado e amuado,
estava João, muito mais para Joana
e don’Ana, sua mãe, desconfiava,
mas ai, do seu pai saber.
Noutra família havia Maria,
também muito mais para Mário,
que no seu imaginário,
culpava a natureza pela inversão.
Era o terceiro sexo,
sendo o primeiro,
fora das convenções
e a sensação de pecado.
Todos estavam errados.
O ser humano tentou de tudo,
para evitar aquela gravidez inoportuna
ou para frear a superpopulação.
Os mais antigos praticavam a lavagem,
com água limpa ou com unguento,
enquanto aquele mais fogoso ou fogosa,
preferiam praticar a masturbação.
Era muito mais seguro
e sem contraindicação.
Cientista criaram novos métodos.
Dill, ligadura, vasectomia,
porque um dia, no mundo,
não caberia mais ninguém.
Mas nada disso deu certo
e foi aí que a natureza entrou.
Observou que num corpo masculino,
bem que poderia colocar uma alma de mulher
ou vice-versa,
pois assim, não haveria feto,
e sem suprimir o afeto,
quem quisesse ter filhos,
teria que adotar
e ainda assim -e de quebra,
daria uma família,
para os filhos rejeitados,
daqueles -ou daquelas,
que só quiseram transar.
Não se trata de defesa
e nem de acusação,
mas talvez, Maria, que bem que poderia ser Mário,
estivesse certa -ou certo
e a natureza a tenha atendido,
enquanto João não precisa ficar deprimido,
porque não foi sua a opção.
É cobrada do homem a responsabilidade
e da mulher os cuidados com a cria,
mais ou menos como na selva,
mas nesse caso,
a mesma natureza tenta
evitar a extinção.
São os dois lados do perdão
e da compreensão.
Maria e João são vítimas
de um erro de produção
ou não?
O sexo, é só mais um reflexo da nossa criação.