PASSOS SECOS

A noite não chega para os olhos cansados

E a vida caindo no abismo das decepções

Condenada a assistir o sol se pondo sempre

Por detrás da colina ferida suando lágrimas

Embriago-me do que há de mais sincero

Dentro do copo transbordando desabafos

Eu me encolho no canto do tempo voraz

Enfrentando os dentes do destino faminto

Nenhum sorriso entre as molduras na parede

Apenas os rostos ancestrais cobrando luta

E a certeza de que hoje foi mais uma batalha

Tatuada na memória que se perderá nas cinzas

Valeu apenas por ser mais um número descrito

Nas filas em busca da migalha nossa de cada dia

E pelo vento que acariciou o rosto inocentemente

Quando mais um corpo se mutilou na engrenagem

A noite não se sente mais digna das mãos cansadas

Tateando as paredes cravadas de farsas homéricas

Não verá a história submundial com passos secos

Avançar sobre a respiração desses sonhos operários

Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 22/05/2018
Código do texto: T6343942
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