PASSOS SECOS
A noite não chega para os olhos cansados
E a vida caindo no abismo das decepções
Condenada a assistir o sol se pondo sempre
Por detrás da colina ferida suando lágrimas
Embriago-me do que há de mais sincero
Dentro do copo transbordando desabafos
Eu me encolho no canto do tempo voraz
Enfrentando os dentes do destino faminto
Nenhum sorriso entre as molduras na parede
Apenas os rostos ancestrais cobrando luta
E a certeza de que hoje foi mais uma batalha
Tatuada na memória que se perderá nas cinzas
Valeu apenas por ser mais um número descrito
Nas filas em busca da migalha nossa de cada dia
E pelo vento que acariciou o rosto inocentemente
Quando mais um corpo se mutilou na engrenagem
A noite não se sente mais digna das mãos cansadas
Tateando as paredes cravadas de farsas homéricas
Não verá a história submundial com passos secos
Avançar sobre a respiração desses sonhos operários