A Guerrilha de Ednor
Rio Charapucu, Afuá pensando em Belém, 11 de maio de 2018.
Ednor nasceu no rio
na nascente do igarapé mais frio
cresceu com pouco açaí de tomar
ainda bem que tinha patauá
Ednor cresceu na vila
onde tudo era na compartilha
na tarde de costa pro sol
no tucunaré de linha e anzol
Ednor não tinha estudo
para ele um documento era um mudo
"eu não quero mas terei que ir embora"
"vou saber o que é uma escola "
Ednor no cimento foi sapateiro
foi garçom e também carreteiro
vendeu chopp e antena de cano
"trabalhei por aqueles que amo"
Ednor não ia em festa
o dinheiro pro aluguel que resta
até que enfim passou supletivo
até sonhava com futuro bonito
Ednor passou no Enem
na redação tirou quase cem
escreveu sobre seu dia no trampo
escreveu que nasceu em tal canto
Ednor aluno se esforçava
seu caderno tudo calculava
Ednor erguia o cimento
a caneta pesa sonolento
Ednor sorriu pra uma pessoa
se apaixonou por tão alma boa
"talvez eu seja um de família "
"quero ter um filho e uma filha"
Ednor sentou na parada
onze horas chuva rua esvaziada
veio um carro da cor prateada
brilhou da sombra uma rajada
Ednor não era Ed sei lá
a sombra falou que ia sujar
Ednor ficou lá no chão
vieram anjos em sua direção
Era um rio de mata tão rica
Era uma escola sua preferida
Era canudo na mão de seus pais
Era o passeio de mãos dadas no cais
Era um sonho dos justos na paz