Um grito de alento
É quando a fome aparece como saciedade
A doença, normalidade
A estupidez, cientificidade
E o privilégio, novidade
Que a revolta vira grito de alento
É quando viver aparece como falta de sentido
O trabalho, suor apenas do desvalido
O tributo, carga do combalido
E o discurso falso, arma do ressentido
Que a revolta vira grito de alento
É quando nos tolhem o parco espaço
Nos impõem um futuro crasso
Nos querem dobrar o espinhaço
E cobrar gratidão pelo direito em descompasso
Que a revolta vira grito de alento
É quando a barbárie se amplia no horizonte
A nossa miséria, sorrisos de um monte
A minoria que se apropria da fonte
E nos querem curvar a fronte
Que a revolta vira grito de alento
E quando tudo parece passado e desilusão
Contraditoriamente estendem a mão
Os que alinhavam anseios dos que só sabem do não
A enxotar os que de tanto sim, não sabem quem são
Soam uníssonos os gritos nesse momento
Inflama-se o que era simples alento
E a revolta se converte em movimento