Epitáfio em branco
Quando nasceu já não era criança.
era frágil e temeroso, e não era um, mas sim vários.
não dormia sob acalantos, mas sim sobre açoites
que lhe arrancavam tiras de pele, as quais expunham, sua alma opaca.
as pernas finas tremiam por tudo, por tudo mesmo: pelo vento, pelo frio, pelo medo, pela fragilidade, pela brutalidade e covardia.
A coisa que mais conhecia era a fome, porque é físico, pois do resto ele não tinha direito, porque não nasceu gente. dignidade, respeito e compaixão?
-carece disso não, sinhô !
como um cachimbó engaiolado, e tipo uma flor que não desabrochou
ele se foi antes dos cabelos branquearem,
e teve no espasmo do fim sua maior expressão de felicidade, porque para ele, não houve vida, houve apenas existência.