Bordado
Bordado
Desde muito pequenino
Vi minhas tias bordar.
Aprenderam com minha avó,
Que era mestra no costurar.
“Pega a linha, põe na agulha!”
“Já estou pegando, mainha!”
“Traga logo esse tecido!”
“Traga a agulha, traga a linha!”
E das mãos de minha tias
Saiam lindas figuras:
Anjos, paisagens, animais,
Árvores e muitas frutas.
Agora, depois de dez anos,
Já quase me esquecendo...
Todas essas lindas lembranças
Estão aqui aparecendo.
A Professora Jo A-mi
Querendo nos provocar
Anunciou certa terça:
“Bordado vamos estudar!”
E então eu aprendi:
Que no ato de bordar
Tem muita coisa escondida,
Que é preciso falar:
Bordado era considerado
Uma arte auxiliar
E somente as mulheres
É que podiam bordar.
Já que tinham que ser menores
Que os homens em qualquer lugar.
E então eu aprendi:
Que as mulheres tomaram seu lugar
Nos movimentos feministas
E começaram a reivindicar
Por sua emancipação
Para que pudessem protagonizar
E donas de si e de seus espaços
Pudessem, então, se tornar
Largando aquela condição
De ser do homem auxiliar.
E então eu aprendi:
Que para o bordado deixar
Esse conceito patriarcal
Precisou-se reinterpretar
A noção de bordado
Para que se pudesse criar
Um conceito revolucionário
E o bordado pudesse se tornar
Uma arte subversiva
Para poder perturbar
As classes dominadoras
E o bordado pudesse se tornar
Uma arte libertadora
Para “as recatadas e do lar”.
E então eu aprendi:
Que homem e mulher bordam;
Que o bordado não tem gênero;
Que o Bordado, hoje!, destrói conceitos;
Que quem borda é revolucionário;
Que quem borda é mais que bordador, é criador de conceitos.
E nessa porra toda, a gente aprende até que o poema não precisa de métrica, nem de estrutura, nem de rima, mas que precisa apenas, como o bordado, PROVOCAR, QUEBRAR CONCEITOS PARA CONSTRUIR NOVOS, PARA UM MUNDO NOVO, REVOLUCIONÁRIO E MELHOR!
Whallison Rodrigues!