TEMPO DE SORTILÉGIO * Dlim-dlão!

A Torre da Má Hora tem um sino.

Esventram os silêncios os seus dobres…

Dlim-dlão! Dlim-dlão! Dlim-dlão!

Se olhares bem, na solidão descobres

a dor do fim nuns olhos de menino

que nada já conseguem ver… Dlim-dlão!

São olhos velhos de esperar cansados

que se cumprisse o sonho de menino…

O sonho vão chegando ao fim… Dlim-dlão!

E tremem os silêncios despojados.

Na Torre da Má-Hora toca o sino:

Dlim-dlão! Dlim-dlão! Dlim-dlão!

Manhã após manhã, promete o dia

a renovada chama da esperança,

e, à ceia, serve a noite a frustração.

E assim, é nesta intérmina porfia

que dói, que desespera mas não cansa,

que se resiste ao lúgubre dlim-dlão…

Ah, mas em todos nós palpita e grita

o testemunho ousado e solidário

da força do querer em construção…

Ousemos ir além desta desdita

que nos mantém reféns deste fadário

e há tanto nos imola no dlim-dlão.

José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 26 de Fevereiro de 2018.

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 28/02/2018
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