FERAS URBANAS
Nas vielas de um lamaçal
Um manto branco encobre
Pequenino corpo crivado de balas
Absorto em vala de barranco
O pobre menino da favela
Outrora fama de valente
Agora um morto que a lama vela
Era rebento pactuado de sangue
Um marginal violento
Jurado de morte
Sua sorte derradeira
Veio em tocaia no mangue
Gritos ao relento
Lentos suspiros
Cobaia de balística
Percentual de estatística
Ele que tinha tatuado palhaço e caveira
Em seita de justiceira gangue
Deita em decúbito ventral
Desfalecem traficantes
Nascem delinquentes
Adolescentes infratores
Credores de maconha e heroína
Devedores de crack e cocaína
Pálidos moribundos
Esquálidos vagabundos
Insanidade
Nocividade
Atrocidade
Sofrimentos rotineiros
Crimes hediondos
Atos infracionais
Medidas protetivas
Sócio-educativas
Delinquência
Impotência
Lamentos em coro
Clamores e clemências
Relatos de tantas dores
Reféns de quadrilheiros
Recrutas de facções
Sitiadas populações
Moleques zombeteiros
Gestos de demência
Loucura e dependência
Zuadentas viaturas
Detentas criaturas
De pouca estatura
Acintes sem piedade
Requintes de perversidade
Pueris assassinos
Meninos birrentos
Violentos juvenis
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Falácia
Sem eficácia
E a urbe arde em violência
Crônica
Ciclônica
Antagônica
Ausência de todos os poderes
Alarde de incompetência que gera
A quimera dos moleques pistoleiros
Emancipados para o crime
Que o Estado não reprime
São olheiros das taperas
Feras urbanas
Criaturas desumanas
Zumbis dos logradouros
Cólera de matadouros
Triste sina
Chacina
Carnificina
Quanta repugnância
Mas também tolerância
Meu Deus, já chega de tanta matança!