Reza preta

Vejo negros em negras profissões

Por detrás de negros balcões

À mercê de negros aventais

E negras ordens imorais

Por onde meus olhos repousam negros,

Sinto a velha negra diferença em ser preto

Conto inúmeros sorrisos ricos amontoados

Incomodando minha negra auto estima em cacos

O ódio desse escárnio

E o sangue negro em meus traços

Me faz versar lamúrias e lágrimas solene

Em memória de quem acorrentado aqui esteve

Em lugares aonde a segurança anda à pé

Avisto negritude apenas nas xícaras de café

Em bairro onde predomina a cor de açucar

Somos invisíveis feito borra escorrendo pela chuva

Sou o resultado da guerra que me cerca

Do arame, do fuzil e da cerca

Soldado se um reino em chamas

Soldado do morro, um preto que o céu arranha

Incontáveis palavras despencam da mente

Buscando refúgio nesse coração quente

Herói de um povo negro

Escravo de ri e de seus próprios medos

Ainda transito atento

Pela cidade cinza-cimento

Trago no peito, vielas

E o meu amor por Mandela

Dos meus, que eu seja guia

Numa mão, punho cerrado, na outra, alforria

Que não me falte o batuque

E que os deuses me escutem

Refazendo minha prece preta:

Pai, seja feita a tua vontade estreita

Não nos deixe cair em brancas mãos

E se os ignorarmos, livre-nos do seu perdão.

Amém.

Dario Vasconcelos

Dario Vasconcelos
Enviado por Dario Vasconcelos em 29/01/2018
Reeditado em 29/01/2018
Código do texto: T6239279
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