Brado retumbante

Meu shorts curto não é convite

Para suas mãos machistas

Me visto para ser vista (como mulher),

não sou capa de revista

Se meu vestido te excita,

Meu cabelo solto te enlouquece,

É bom que saiba:

Na sua casa tem uma mulher

Que nesse momento

Está sob olhares de cobiça

Ei ? Não sou sua vadia!

Meu decote a mim pertence.

Esses óculos não são de "puta",

Talvez eu até queira ser uma,

Quem sabe assim você

Pague por essa olhadinha abrupta

Andar nas ruas é difícil

Vivo dia após dia

Cercada por inimigos

E a cada esquina

Recebo um novo,

Nojento e sonoro "elogio":

"Ôôôôô lá em casa"

"Benza Deus hein morena"

"Noooossa, que delícia"

"É tudo seu ?"

"Quanto é 1 hora ?"

"Que rabo hein ?"

No Brasil o machismo

É tão comum quanto

As guerras civis em Damasco

Mais sério que as reuniões

Do COPOM pra falar

Sobre a redução da taxa Selic

Tão importante quanto

O descongelamento

Das calotas polares

Tão ou mais assustador

Que os motivos de Suzana

Para ceifar duas vidas

Mas por aqui,

Até aonde meus olhos avistam

E meus ouvidos alcançam,

Escuto apenas um brado retumbante

Vestido de verde e amarelo

A bater panelas em varandas gourmet.

Dario Vasconcelos

Dario Vasconcelos
Enviado por Dario Vasconcelos em 24/01/2018
Código do texto: T6235098
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