Brado retumbante
Meu shorts curto não é convite
Para suas mãos machistas
Me visto para ser vista (como mulher),
não sou capa de revista
Se meu vestido te excita,
Meu cabelo solto te enlouquece,
É bom que saiba:
Na sua casa tem uma mulher
Que nesse momento
Está sob olhares de cobiça
Ei ? Não sou sua vadia!
Meu decote a mim pertence.
Esses óculos não são de "puta",
Talvez eu até queira ser uma,
Quem sabe assim você
Pague por essa olhadinha abrupta
Andar nas ruas é difícil
Vivo dia após dia
Cercada por inimigos
E a cada esquina
Recebo um novo,
Nojento e sonoro "elogio":
"Ôôôôô lá em casa"
"Benza Deus hein morena"
"Noooossa, que delícia"
"É tudo seu ?"
"Quanto é 1 hora ?"
"Que rabo hein ?"
No Brasil o machismo
É tão comum quanto
As guerras civis em Damasco
Mais sério que as reuniões
Do COPOM pra falar
Sobre a redução da taxa Selic
Tão importante quanto
O descongelamento
Das calotas polares
Tão ou mais assustador
Que os motivos de Suzana
Para ceifar duas vidas
Mas por aqui,
Até aonde meus olhos avistam
E meus ouvidos alcançam,
Escuto apenas um brado retumbante
Vestido de verde e amarelo
A bater panelas em varandas gourmet.
Dario Vasconcelos