O VELHO CÃO E SEU RETIRANTE DE ESTIMAÇÃO
Longo caminho, cheio de espinho.
Mulher e filhos cansados, empoeirados.
Sol escaldante.
Enfim, encontra o rio:
leito e estômagos vazios.
Filho adoece: mulher faz prece.
Ele pensa em matá-lo, inda alisa o gatilho.
Quer se livrar de o arrastar:
"Se não morre de bala, feito homem,
morre de fome".
Areia quente: nenhum animal, nem gente,
nem sombra pra compensar o dia ardente.
Anoitece e, sem luar, tudo escurece.
Pra não gastar forças, fala baixo,
fica quieto.
Baleia por perto, pedindo alimento, late.
Dá-lhe combate: um soco fê-lo calar.
Cansado e desesperançado,
no colchão de areia adormece.
"Leito estranho o do rio, sem teto ! "
Começa a sonhar.
No sonho,
filho morre mas o deixa contente:
enterrado numa rede, como indigente...
Acorda assustado.
Vê o filho, recuperado,
a brincar com Baleia, que, nos dentes,
trás um preá de presente,
recém-encontrado, enterrado na areia.
Esfomeado, preparou o almoço,
sem sabor, aguado, destemperado...
Muito agradecido, deixou para Baleia
o couro endurecido
e um pedacinho de osso.
__________________________________
Notas:
Longo caminho, cheio de espinho.
Mulher e filhos cansados, empoeirados.
Sol escaldante.
Enfim, encontra o rio:
leito e estômagos vazios.
Filho adoece: mulher faz prece.
Ele pensa em matá-lo, inda alisa o gatilho.
Quer se livrar de o arrastar:
"Se não morre de bala, feito homem,
morre de fome".
Areia quente: nenhum animal, nem gente,
nem sombra pra compensar o dia ardente.
Anoitece e, sem luar, tudo escurece.
Pra não gastar forças, fala baixo,
fica quieto.
Baleia por perto, pedindo alimento, late.
Dá-lhe combate: um soco fê-lo calar.
Cansado e desesperançado,
no colchão de areia adormece.
"Leito estranho o do rio, sem teto ! "
Começa a sonhar.
No sonho,
filho morre mas o deixa contente:
enterrado numa rede, como indigente...
Acorda assustado.
Vê o filho, recuperado,
a brincar com Baleia, que, nos dentes,
trás um preá de presente,
recém-encontrado, enterrado na areia.
Esfomeado, preparou o almoço,
sem sabor, aguado, destemperado...
Muito agradecido, deixou para Baleia
o couro endurecido
e um pedacinho de osso.
__________________________________
Notas:
1) inspirado no romance "Vidas secas", de Graciliano Ramos;
2) assumimos despesa postal do n/livro: "Em Cabedelo, numa casquinha de noz".
2) assumimos despesa postal do n/livro: "Em Cabedelo, numa casquinha de noz".
_____________________________________________________________