Goteira-estudante
Tarde e chuva,
Melancolia de horas antigas.
Saudade de vizinhos antigos, barbudos, esquisitos
Heróis de guerra.
Janela e rua
Calçadas furadas, água empoçada,
Mosquitos amparados, o prefeito... neca
Radioatividade não,
Mas sapatos pisando as lagoinhas da rua, sim,
Delineiam cogumelos atômicos.
Solução nojenta, escura, de papéis de cigarros
Mais cascas de sorvete pisoteadas por obesos.
Entusiasmada,
Uma goteira-estudante
Repete alto há meia hora
Um ponto de História
Escrita num pedaço de lata de banha.
Ela quer o mundo de ponta-cabeça.
(Belo Horizonte, MG, 1969)