ABANDONO
A vida corre
nas pernas do tempo
E o tempo...
Tem asas de vento...
O vento... o vento.
corta a alma rasgada
pelo desencanto
O velho sentado na praça
ao sabor do abandono
tem na gruta da boca
a palavra selada
Cansado, sem graça
caduco, aduncado
pelo peso dos anos
tem no espelho do olhar
a lágrima trancada
que nem sabe mais
como chorar.
A sorte foi triturada
pelos dentes do tempo
Vem a noite, vem o frio,
vem a fome, estômago vazio
O velho sozinho
com destino traçado
tem saudades da infância
do colo materno
do leite quentinho.
Se encolhe, se ajeita
buscando um carinho
em seus braços gelados
E o cobertor da noite
abriga seu último sono
Vem a mão amiga da morte
recolhe o menino
ficando seu corpo
marcando presença
no país da esperança!