NEM CORVO, CORUJA E SIM MORCEGO

Numa noite de fim de ano eu estava lendo muito triste

O poema de Edgar Allan Poe, talvez para me alegrar

E, já próximo da meia noite, eu muito apavorado ouvi

Um som na janela aberta do quarto, como um bater de asas.

Um pássaro noturno, pensei, cambaleou nos vidros da janela.

Para mim, ao menos, nada demais, exceto uma cena tão bela.

A noite era a do fim do ano dia em que me sentia não frio, mas febril.

Afinal o calor foi por demais naquele ano em seu mês de abriu,

Embora já estivesse passado de meia noite, no calor sentia frio,

Sem o aquecimento de uma mulher amada, ante uma febre doentio,

Carente talvez de alguma mulher querida que me desse um refugio,

Não sempre, mas somente companhia para um momento sombrio.

Tremendo de frio, ou medo, já confuso, comecei a ficar irritante

Com aquele bater de assas e arranhões na janela de meu quarto,

Que até gritei: "Você, seja quem for, está atrapalhando o meu sono:

Esta vidraça é meio aberta, mas não entre, pois eu te abandono.

Vai para os quintos do inferno sem pai e mãe e sem dono,

Não lhe quero por escravo e ainda menos sequer por patrono.

Por mais que seja forte um instante de coragem,

Senti ainda muito mais o frio do medo ao ver o vulto arrepiado

E tentando agora mais ainda a entrar em meu quarto pela janela,

Tanto que lhe implorei perdão se acaso eu lhe houvesse ofendido,

E sua resposta foi exatamente o contrário: Não, não, você me agrada,

Quero apenas passar esta noite conversando com você para me ajudar.

Amedrontado mais ainda apaguei todas as luzes e me pus de joelhos.

Como foi triste eu descobrir que não conseguia mais rezar:

Tudo o que eu aprendera com meus pais, não me lembrava mais...

O que havia aprendido com as catequistas eu havia detestado,

Portando, rezar o quê? Religião nada mais em mim restava,

Nem eu sentira alguma falta até aquele momento temeroso.

Não aquentei mais pequei uma vassoura pelo cabo

Quebrei toda a janela de meu quarto para que o estranho entrasse,

Sem me incomodar. Um voador entrou, não coruja, mas um morcego.

Na verdade, era um Vampiro temeroso, mas que falava,

Dizendo que me amava, assim como os brasileiros e brasileiras.

Nada mais desejava a não ser o apoio de todos para salvar o BRASIL.

Temendo aquele Vampiro sanguinolento, quis saber o seu nome.

“Meu nome” respondeu-me: Temer não precisa. É o que menos importa.

O que vale é que vou estancar a sangria do país, essa que o enfraquece.

Respondi-lhe com a vassoura na mão, pronto para bater-lhe com o cabo.

Mas antes perguntei: Como secar sangria se isso é alimento de Vampiro?

Respondeu-me: Não durma, nem sonhe. Sangue de pobre é dinheiro.