INDIFERENÇA CÍVICA
Deitada contente
No colo do adorno
Minha burguesia terna
Compra o pão e paga o troco.
Repousa com grossas meias
Meu descaso aos acasos
Num lar de muros altos
E vitrais enfeitados.
Eu de riso e punho frouxo
Que esbravejo contra
O teu protesto nobre
De gritos sinceros
Nas esquinas ao reivindicar
Em tua greve que me leva
A razão por ausência
De fartos motivos para lamúriar.
Enquanto o mundo
Expõe suas mazelas
Como fendas para o labor
Ora travestidas como se fossem
O seu contexto natural
Surgindo em meio a paisagem
Passiva de concreto e fluxo
Mundo lúcido em lúdico mal.
Tua realidade grita
E me golpeia com vigor
Deixando-me aturdido
Ao admirar as longas
Filas de emprego
E a violenta fome
Que não se pode saciar.