LUTAS E LUTOS

Lucas,

        Acalma-te

Tudo bem se quiseres

Dormir por hoje

        Não te desesperes!

A economia nacional

A bolsa e suas mazelas

      Por hora

Podem ser esquecidas

A ruptura da barragem em Minas

A impunidade hedionda

A corrupção governamental

       A propina

                              Caixa II

Delações premiadas

O ditador discursando em horário nobre

A miséria do salário-mínimo

Os poderosos clãs

Os Waltons, os irmãos Koch,

Mars Inc, a família Cox, Newhouse,

Ziff, Hunt, Marshall, Mellon, Rockefeller

Implodindo seu lucro na matéria-prima

Enquanto um menino vê refletido

Na vitrina da loja

O seu desejo mais necessário

Cingir impossível

Conflitos civis na República Centro-Africana

Campos de refugiados em Uganda

Amores incertos tingindo a vida de enigmas

Nada importa

Se por agora

Tu foderes com a vida.

Outra hora tu apara as barbas

Toma teu banho

            Veste teu sorriso

                    Não há problemas

Em não querer sair do quarto

Está semana

                 Este mês

                               Irão passar!

E junto deles

Quem sabe

Passe a nuvem que paira

                     Em desgraça

Quem sabe

Passe a queda do dólar

A crise mundial

E se finde o despotismo

                   O desemprego

                   A guerra Síria

O fundamentalismo religioso

                   A intolerância

A desonestidade intelectual

O oportunismo político

A violência excitante

As dívidas e juros

                As dádivas e juras

As discussões nos bares sobre paixões

Quem sabe

         A doutrinação

              A censura

                    A manipulação

Dêem vez à paz israelo-palestina

Quem sabe a vida possa ser outra

Quem sabe

Quem?

Ninguém sabe!

É realmente uma pena

Que não possas simplesmente adormecer

E tenha que aturar-se

Na sobriedade dos dias

Na embriaguez das horas

Que correm por entre os dedos

Pelas fissuras do piso

Veloz e irremediavelmente

E ao olhar à frente

Vêm arrasta-lo

Aos tédios futuristas 

Tão presentes quanto este instante

E no fim

O que lhe resta são essas pílulas de sono

Para apagar-te a consciência

Da profusão dos dias. 

Mas talvez andaste pulando-os

Na ordem errada:

A tarde brilha feliz enquanto dorme

Quanto acorda a garoa cinza

Faz das trevas tua realidade.

Apesar dos pesares

O mundo - roda viva

                            Que a tudo engole

Continua sob o julgo do tempo

Incessante

                 E imprevisível

Pois toda fome

Merece ser consumida

Ainda que insaciável

E a vida

Ainda que injusta

E inviável

Ainda que o sonho um tato impalpável

Ainda que a mocidade pareça perdida

Ainda que a força com que lutas esteja falida

A vida

É única

E merece ser vivida a cada dia

Do mesmo modo 

Que te abriste ao primeiro

Tal como se fosse o último

Dia que viveria.

HenriqueBazzí
Enviado por HenriqueBazzí em 18/12/2017
Código do texto: T6201633
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