O homem do Hospital

O HOMEM DO HOSPITAL

Izaias Resplandes de Sousa

Não é o que diz saber de tudo o que sofre um homem miserável,

Mas que não viveu da sua miséria, nem mesmo uma pífia amostra...

Que alardeia o sofrimento do que passa fome, estendendo a mão,

Enquanto se banqueteia, numa mesa cheia de toda espécie de pão...

Não é o que blasfema o nome santo: que seria um pai inominável,

Que abandona o filho, que em profunda fé, aos seus pés se prosta...

Não! Não é esse o ser que de verdadeiro homem, possa ser chamado,

E que entre os pobres santos, que Deus amou, de maneira sem igual,

Possa um dia encontrar-se no céu da vida eterna, abençoada e de luz,

Que Jesus preparou, em um cálice de amargor, ao morrer numa cruz,

Misturando a sua dor, com a dor do infeliz, nem da morte lembrado,

Condenado a uma sina: uma vida severina e a um destino infernal.

Não é aquele que ignora o olhar espichado de uns olhos maltrapilhos,

Que iluminam o corpo andante, numa vestimenta quase desnudante,

Que cobrem uns lábios tremulantes, em palavras de infinita piedade,

Abençoando num Deus lhe pague, meio-pão há vários dias de idade,

Que os fazem em claras, verdes, azuis ou negras cores de brilhos,

Imaginados pelo cego ser, como reflexos de sua beleza narcisante.

Não! Não é esse manequim, de cravos no peito e perfume de jasmim,

Desfilando em seus autos caros, em feitos de profundo desrespeito,

Aos descalços pés sobre cambitos, feridos na terra queimada de sol,

Que coloridos de sangue, em perfeita fusão, com o poente arrebol,

Cruzaram o mar de areia, em um sol de lua cheia, vendo que só assim

Cheios de fé e andando mesmo sem veste, teriam o mundo perfeito.

Não! Não é este animal, que se diz ser racional, o homem do hospital.

Naquele ser perfeito, os olhos veem direito, tudo o que a gente for.

Ele sente nossa fome e a angústia lhe consome, numa forma sem par,

E só consegue comer, se os olhos puderem ver o pão nos alimentar.

Ele não ataca o santo; agradece-o mil vezes tanto, o socorro paternal.

E até pelo meio-pão, de um duro coração, pede bênção ao benfeitor.

Não! Esse ser que vê o ferido à beira da estrada e o deixa abandonado,

Nada tem da imagem e semelhança, daquele homem, ali, do hospital.

Ele deu os primeiros socorros lá, ao coitado, quando jazia abandonado,

Quando fora atacado por causa de um mero pacote, a ele encarregado,

De levar a uma pessoa, numa cidade vizinha, por conta de um trocado,

E ainda pagou de seu bolso o transporte e também o tratamento do mal.

Esse senhor bendito, que veio trazer um céu de humanidade à gente

Que vivia distante do conforto, do atendimento e do socorro da Capital,

Foi contemplado com uma santa missão de amor, pelo homem sofredor,

Vivente no interior, na terra de Poxoréu, para ir até ali e operar sua dor.

E ainda que fosse um só, em favor de tanta gente, gemente e diferente,

Soube agir com presteza, com rigor e firmeza, em sua luta contra o mal.

Não!! Esse homem do hospital, sempre foi feroz, na luta contra o mal,

Sem querer ser conhecido, pelo bem oferecido àquele irmão tão doente.

Ele teve vários nomes e políticas diferentes, mas sempre foi beneficente

E autêntico filantropo, impedindo que a direita, o soubesse prontamente,

De seus contatos com a esquerda, de posição tal, um tanto mais radical,

Pois tudo o que visava, era o bem que se dava, em favor de sua gente.

Poxoréu, MT, 05 de novembro de 2017.

Izaias Resplandes de Sousa