Máquinas descartáveis

Numa fábrica esculpem máquinas

Agenciamentos, moldes, chips iguais, esculpem idiotas, máquinas programadas, e se der um curto-circuito devem ser destruídas, desativadas, máquinas não podem pensar

Seguem uma caminhada retilínea, olhar fixo num mesmo horizonte, marcham em ordem, algumas têm seu óleo para beber, seus parafusos para comer, enchendo a boca, calem-se, calando-se irão sobreviver

Enquanto outras não têm o que se manter, enferrujadas são descartáveis, jogadas ao relento, enterradas no meio das sucatas onde sobrevoam os abutres maquínicos que dilaceram suas partes, enquanto os olhos são fechados e os ouvidos tapados, as máquinas continuam, não há dor, não há sofrer senão for com o eu, não ligam para você

E quem as controla riem das massas que trabalham para morrer, escravizar-se no endividamento das prestações de outras máquinas que ao piscar dos olhos já estão ultrapassadas, enchendo seu bolso, corpo, poder

E as máquinas cansam, adoecem, enlouquecem, então é hora de dispensá-las, pois só restam sucatas e outras hão de substituí-las, hão de nascer.

(JHC, 09.12.17, Rio Branco- AC)