Ama De Leite

Dancei, ah como dancei,

Como se houvesse apenas o céu estrelado,

Dancei e vi a crepitação da fogueira,

Imitando meu jeito de dançar;

Havia música e todos os companheiros,

Dançávamos não por plena felicidade,

Mas por um vislumbre de liberdade,

Que nosso coração tanto sonhava;

Quando for a hora de ir deitar,

A senzala vai ser um quarto frio,

Como o navio onde meu avô veio,

Ao som das correntes e de aflição;

O dia amanhece tão depressa,

Parece que o tempo é nosso inimigo,

Passamos tanto tempo trabalhando,

Colhendo, cozinhando, apanhando...

Tenho medo de dormir as vezes,

Fico de olhos abertos a esperar,

O sinal do senhor entrar e vir buscar,

O grito já fica na garganta trémula;

Sou ama de leite, sou mãe dos brancos,

Os meus filhos nem sei por onde estão,

Devem estar separados pelo mundo,

Meu coração sofre menos ao não vê-los sofrer;

Os meninos chamam pela mãe negra,

Assim como minha alma clama pelo dia,

Em que retornará de navio para o céu da África,

Ao lado dos meus filhos negros e brancos;

Esse poema é em homenagem ao dia da Consciência Negra.

(Data: 20 de Julho de 2017)

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