Carta para Inácio (n°01)
Inácio,
nascido para ser estrela
era mais um, no sertão de tantos
onde o chão rachado no beiço da lagoa, prenuncia a morte.
O sol causticante, a mata desnuda
muda, estática
como que paralisada de medo
era a pátria de Inácio e dos Seus,
que eram, e são,
muitos,
Inácio e sua estrela
sua sina, seu anjo como a dizer
para a família peregrina;
“Pega Inácio, e foge para a cidade grande”
que de tão grande,
era como se fosse mãe de todas.
Inácio era manhã abismada
com a verticalidade absurda da loba,
mas tinha sua estrela
e logo, também
sua bandeira
Inácio bandeirante
abrindo caminho em nome dos seus
estrela no peito, bandeira em punho.
Lembra Raimundo da música? quase um hino
entoada por homens, mulheres, meninos
pés descalços, mãos calejadas
ninando sonho, esperança.
Inácio e seu vôo
seu salto acrobático
sua clava fincada
em território almejado
Do plan (o) alto Inácio vê o mundo
e se deslumbra e fragmenta-se em mil possibilidades.
Se eu pudesse, pegaria Inácio pela mão
e o convidaria a refazermos, descalços, o caminho da procissão
E o diria com voz de ancião;
- Calma Inácio, o mundo é grande, cuida primeiro do teu umbigo.