DESCE DO PEDESTAL
I
Você, que com arrogância,
Pura ignorância
Odeia pobres, mendigos e pretos,
Que com esnobe jeito,
Arraigado preconceito
Humilha a pessoa
De maneira à toa ,
E que movido por pretensa superioridade,
Tola vaidade
Cultivada por sua prepotência e imbecil banca,
Não vê que sua pele é branca,
Mas que todo sangue é rubro!...
E que o sol,na Divina Sabedoria
De quem o impulsiona
No seu itinerário de todo dia,
De seu mister, não esquece :
Aquecer a toda criatura
Na face da terra
Dispensando tratamento igualitário
A pobres e ricos ,
E sem riscos Abrasadores
A não ser demasiada
exposição solar,
Não nega seus raios solares
A todos os lares
Mundo afora,
Não se importando com a cor da pele,
Condição social,
Etnias ou crenças,
Indistintamente aquece índios,brancos,
amarelos, mulatos, mestiços e negros
--Toda a humana raça
Que por Divina Graça,
Camarada, é sua irmã,
Filha do mesmo Pai Celestial.
II
Você , carcomido por toda sorte
De excrescência mental,
Afeito a manias ,
A tolos caprichos, vícios e mazelas:
Intolerante,
Prepotente e arrogante
Que não aceita as diferenças da vida
Que sempre existiram
E hão sempre de existir
Desde os primórdios do tempo,
Onde há pobres e ricos,
Brancos e negros,
E ninguém pode ser condenado
Pela religião que professa,
pela camada social a que pertence,
Pela opção sexual escolhida ,
Pela família à qual foi gerado.
III
Você , que ama a tudo que representa luxúria,
Ostentação de grandeza,
Esbanjar avaramente sua riqueza,
Viver em desenfreada esbornia,
Olhando apenas para o próprio umbigo,
Lembre que o mundo não gira
apenas ao seu redor,
E que todos são iguais parente o Criador.
IV
Você, que odeia criança de rua,
Que na estupidez sua
Detesta pobres, negros,
Trabalhadores, nordestinos,
Esses ultimos, espezinhados,
como seres diminutos tratados
Que sequer é facultado,
Na deturpada ótica sua,
Ocupar o mesmo espaço seu
E de todos aqueles pertencentes
A seu círculo social!
V
Você ,animal de bruta raça,
Que faz festança
Com a miséria alheia.
Que coisa feia!
Desce do pedestal !
Vem comigo, que te mostro
a cara horrenda
da fome.
Já viste o solo crestado,
A seca abrasente,
Como disse o poeta
"Que a tudo devora"...
Matando de sede bichos e gente
Que pra não morrer de fome,
Abandona tudo,
Vai embora ?
Já viste uma favela,
um barracão ,
Um casebre desmoronar no chão,
Uma casa de taipa,
Uma palafita (suspensa a paus fincados
No mar ao sabor dos ventos e tempestades)?
Já viste o desgosto
Vincado no rosto
Da pobre mãe,
Cuja face transida de dor depõe
A infinda tristeza
De ela, impotente,coitada,
chorar,
Por não ter nada
Para pôr na mesa
E alimentar crianças famintas
Que da vida -- não entendem nada,
Querem apenas,
Se alimentar!
Mas você, que somente para aparecer na fita,
Ou pra lavar grana,
De nababescas obras, bacana,
É mecenas ,
Por que não abre o cofre?
Um mísero gesto de misericórdia apenas
Faria toda a diferença!
Vai, abre a bolsa!
Apenas uns trocados
Dos seus bilhões guardados
Valéria apena,
Alimentaria milhares de bocas famintas.
Mas não!
Na sua concepção doentia, essa pobre gente,
Não é gente.
Como bichos, hão de ser tratados!