O sal que sai do sol
As três da madruga
Ela deixa os sonhos no colchão
vai para o chuveiro lavar-se da solidão do quarto
No armário entre retratos dos filhos, uma bela roupa escolhe
Sapatos polidos e Batom
Um café para espantar o sono
e sentada em frente a televisão
voltam inconscientemente os sonhos em promoção
E sai...
À lutar oito horas diárias, por uma aposentadoria que nunca chegará
Acredita que não há nada a, "Temer"
Enquanto varre os paralelepípedos
e calçadas sua marmita esquenta
Sobre fogo e sol
Em sua testa, suor e sal
Escuta pelo fone de ouvido que
Roubaram "mais um muito" no planalto central
O bolso do Naro está cheio
Suas latas do lar quase vazias
O transbordo da propina é perigoso
Vai no bolso, nas cuecas e orifícios
Rolos e rolos grossos de dinheiro
Ao longo dos anos
E no ânus para entrar passa "Mantega".
O sol aumenta, o suor escorre e o sal na testa
Limpa com a manga da camisa e segue varrendo
Todo o lixo das classes sem Educação
que jogam na rua o que provavelmente não fazem no chão
do Lar
No máximo ela tem que se virar
Varre pensando em lavar
O sistema opressor e explorador de mãos
Com um mínimo salário arrancam de nós muitas obras
e para que ela fique conformada
Libera o governo uma "graninha" alí parada
Fundo inativo
para um povo passivo
e ela varre para debaixo do tapete da civilização
a Sujeira imunda dos governantes
acaba o expediente
limpa o rosto novamente, roupa, sapato e batom
Vai orando para casa
pedindo que amanhã seja diferente...
Alguém no empurra empurra do ônibus lotado pergunta o nome dela
Com o corpo moído de cansaço e teimoso a se sustentar responde:
Meu nome?! Sim pois não: SOCIEDADE!