Garota de programa
Não julgues minha cama, que ela é também o divã
onde suam os inseguros, onde gozam os frustrados,
onde gritam os sexualmente mudos.
E o saldo deste serviço que presto
com estranhos em minhas entranhas
é como a fortuna que se recebe de um pai morto:
chora-se da morte, ri-se da riqueza,
que é sorte passageira.
E cada membro que sugo
antes de invadir o meu corpo
e que curo por uma hora,
com pesada destemperança,
mata-me moralmente
para que eu possa receber essa herança.