Pobres crianças: crianças pobres

Crianças criadas cruas para vida

Ardendo em inconfortável sol

Queimando e esquartejando peles nuas

Semi-nuas e famintas

Autoridades passavam

Viam e viravam os rostos

Estavam pensando no almoço

Longe pensariam: “isso daí é minha culpa

Eu tenho o dever legal para alterar essa situação”

Crescendo nas trevas da hipocrisia

Alimentando-se no leito da agonia

Não possuindo corpos, só formas

Nas quais as costelas pintam as cores da dor

Que se prepara para um longo sono

Onde nem uns pequenos ternos de madeira encobrem

E a solução é cobri-los com terra

Escondendo os olhos loucos por alimento que talvez acrescessem seus destinos

Que nem cresceram: “a fome”,

“a sede”, “as drogas”, “a loucura”...

Onde o Estado mesmo disse:

“Isso é bom pelo menos eles se esquecem disso tudo

Morram!

Pois essa é minha voz já falida

Que gasta o suor de muitos

Em futilidades que um belo chute

Ou um belo carro alegórico escondem

E se me perguntassem: ‘quem paga tudo isso?’

É o futuro

Crianças criadas cruas para vida”

Raul Lennon
Enviado por Raul Lennon em 15/08/2007
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