Democracia fabricada
Nasce, menino!
Entregues a vida inteira,
sob o mesmo manto de caos,
um povo calado,
seus verbos calados,
seus filhos calados,
seguindo ordens de quem vive fora de ordem.
Rima, rapaz!
Os laços se dão,
as massas se vão,
poesias envoltas em bandeira e merda,
gêneros de todos os gêneros
na ponta do cigarro de profetas
ou na bunda fétida de generais.
Entregues à própria sorte,
esse povo esqueceu de cantar,
esse povo esqueceu de revolucionar,
esqueceu que este momento é demonstrativo,
esqueceu dos martírios e da paz sonhada.
Agora chora,
agora ri,
agora, esmola,
espetáculo dantesco
de democracia fabricada.
Vinga, rapaz!
Pois esse colosso é de carne,
mas nossa história é de sangue...
e não morre, brasileiro.